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Hoje deu-me para pensar...

Hoje deu-me para pensar... não sei porquê nem sequer sei se há de facto uma razão.
Pus-me a pensar em como as coisas mudaram nestas últimas décadas... e pus-me a pensar se a mudança foi boa ou nem por isso.
Eu ainda sou do tempo, como dizia a avozinha num conhecido anúncio televisivo em que as crianças iam a pé para a escola quer chovesse quer fizesse sol; nos recreios jogávamos ao lencinho, às escondidas, à cabra-cega, à apanhada, ao pião, às caricas... não perdíamos o tempo a enviar sms, mms e afins e a deixar os pais loucos com o dinheiro que se gasta nessas conversas tecladas; nas aulas levantávamo-nos quando o professor entrava, chamavamos-lhe Sr. professor e arriscávamos levar com a cana ou com a régua se faltássemos ao respeito ou se fossemos mais atrevidotes para não falar nas célebres orelhas de burro quando a coisa descambava mesmo... hoje os alunos batem nos professores, os pais batem nos professores e o respeito perdeu-se completamente, castiga-se o professor por ser duro e suspende-se porque ralhou ou foi mais agressivo com os meninos.
Naquele tempo, os miúdos brincavam juntos pelas ruas depois da escola...não havia adultos a supervisionar e sabíamos que não nos podíamos "esticar" mas ainda assim apanhávamos ar, sujávamos a roupa, brincávamos, ríamos, saltávamos e pulávamos como loucos... não tínhamos consolas, nem computadores, nem jogos electrónicos, mas éramos barras no dominó, no jogo do anel e em toda a panóplia de jogos de cartas.
Naquele tempo os pais tinham um ataque histérico que dava origem a meia hora de ralhete e muitas vezes a um tabefe ou a uma palmada bem assente quando por acaso ou fruto da brincadeira rompíamos a roupa... as calças eram caras, muitas vezes já tinham sido dos irmãos mais velhos e não eram para estragar... hoje a moda são as calças o mais rasgadas possível e de preferência a assentar em sítios que deixam a cintura a uns cêntimetros de distância.
Naquele tempo, sobretudo para os miúdos que cresceram nas aldeias deste país então rural, os tempos livres eram para ajudar no campo, para tomar conta do gado, para ajudar nas sementeiras, nas colheitas, nas lides do campo e nas lides domésticas... não tínhamos natação (a não ser quando tínhamos a sorte de viver perto de um rio ou ribeiro ou de ter um tanque suficientemente grande), equitação, ginástica, música nem toda a panóplia de actividades que os miúdos hoje têm ao dispor e que acabam por lhes encher o dia deixando pouco tempo para serem crianças.
Naquele tempo tratávamos os mais velhos por você, incluíndo os pais, e os pedidos dos mais velhos eram ordens... hoje é tu cá tu lá e nem a velha regra de que quando os pais se lembram que temos dois nomes é porque a coisa está mal parada resulta.
Naquele tempo tínhamos tão pouco... mas o pouco que tínhamos era tanto: éramos felizes, alegres, brincalhões, sabíamos o essencial sobre a vida e o mundo e não imaginávamos que para além da linha do horizonte se estendia todo um universo que um dia estaria ao nosso alcance com um simples clique...éramos crianças.
E hoje em dia? Serão as nossas crianças felizes? Será que esta geração tecnológica e consumista que tem tudo ao dispor sabe aproveitar o que lhe é dado tantas vezes com tanto sacrifício? Será que a sociedade que temos vindo a criar soube preparar os mais jovens para tempos adversos e menos fartos? Será que nós os mais crescidos os soubemos preparar para a vida... não para o aqui e agora mas para o amanhã?
E será que nos soubémos preparar a nós mesmos ou que nos deixámos embarcar neste onda consumista que vive de aparências, de estatutos e muitas vezes de farsas?
Será que seríamos capazes de voltar a viver sem televisão, sem microondas, sem carro, sem computador, sem telemóvel e sem todas as coisas a que ao longo dos anos nos fomos habituando? Será que nos soubémos preparar e preparar os outros para tempos mais complicados? Será que somos capazes de prescindir de tantas comodidades face às dificuldades que se avizinham?
Não sei... talvez. O que sei é que em pouco mais de três décadas as coisas mudaram tanto que olhando para trás é dificil reconhecer o passado... mas embora isso me preocupe o que me assusta mesmo é pensar que a este ritmo daqui a três décadas pode não haver sequer passado para onde olhar...e pior ainda pode não haver futuro no horizonte...
É isto que dá pormo-nos a pensar...

Comentários

  1. Olá Hisalena!
    Ao ler este texto vi passar-me diante dos olhos todas essas imagens que também fizeram parte do meu passado. E quantas verdades estão aqui descritas. Em relação às questões levantadas... acho que vamos ter de esperar para ver, na certeza que o respeito pelos valores que existia noutros tempos e que agora é escasso deixará de existir.
    Beijo

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