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A sociedade do descartável

          Sou daquelas pessoas que tem a mania de pensar demais nas coisas... às vezes é bom e às vezes nem por isso... enfim. Ultimamente tem-me dado para olhar em meu redor e confesso que me preocupa, para não dizer que me assusta o que vejo.
          Vivemos na sociedade do descartável... Está maluca!- Estão vocês a pensar a esta altura. Não estou não - respondo eu.
          A verdade é que ao longo dos tempos se foram perdendo os valores, as noções básicas do respeito, os afectos e as coisas para a vida. Fomos construindo uma sociedade onde tudo é efémero e onde tudo faz sentido até ter utilidade... porque depois é simplesmente jogado fora.
         Os idosos deixam de poder contribuir com o seu trabalho, muitas vezes para o sustento dos filhos, começam a dar trabalho, a entorpecer, a dizer coisas sem sentido... não há problema despeja-se num lar ou num hospital e eles que cuidem...ou então deixa-se em casa à sua sorte à espera que uma alma caridosa se lembre de por lá passar para ver se ainda mexe.
        Os bebés são tão maravilhosos... mas são tantas vezes incómodos, provocados pela insensatez de quem os trouxe os mundo... não faz mal despeja-se no lixo e espera-se que uma qualquer instituição o acolha e faça dele um adulto em condições.
       Os amigos são tão bons... mas quando deixam de fazer o que os outros querem e a fazer-se valer por si mesmo tornam-se incómodos... não há problema troca-se por outro e começa-se tudo outra vez.
       Os animais são tão fofinhos... mas dão trabalho, largam pelo e a pessoa quer ir de férias... não há problema despeja-se aí num descampado e lá para o Natal vamos a um abrigo buscar outro, assim sempre salvamos um animal, pelo menos até às próximas férias.
        Tudo é fantástico enquanto serve um propósito, depois qual moral, qual respeito, qual solidariedade, qual ética... depois é cada um por si e mais nada! Hoje nada é para sempre... hoje quase nada é sequer para durante algum tempo... hoje tudo se troca à velocidade da satisfação dos caprichos e dos desvairos de cada um. Hoje tudo é bom enquanto dura... mas dura tão pouco que nem há tempo para apreciar e ver o quão bom é de facto!
       Vivemos na sociedade do descartável, onde tudo é reciclável, onde tudo pode ser trocado por uma versão mais adequada a qualquer momento, onde se dá real valor a muito pouco, onde se ensina muito pouco o respeito, a partilha, a moral, a rectidão, a amizade e os afectos. Vivemos numa sociedade cada vez mais fria, mais crua, mais despida... na realidade cada vez mais cinzenta e desagradável e cada vez menos sociedade...

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