(...)
Mas não
sabes e não te condeno por isso, na verdade nunca te expliquei, nunca falámos
sobre isso… Agora que penso nisso somos amigas há tantos anos e nunca falámos
sobre tanta coisa. Ainda assim achas que me conheces melhor do que eu mesma,
continuas a achar que a minha vida é um mar de rosas porque nalgum ponto da
minha vida, talvez de forma inconsciente optei por seguir um rumo diferente do
que era esperado de mim: estudar, trabalhar, casar, ser uma esposa prendada e
submissa, ter filhos e ser uma mãe maravilhosa. Dizes vezes sem conta que
invejas a minha liberdade mas dizes outras tantas vezes que não serias capaz de
viver assim… o que raio é viver assim? Até parece que sou uma freira em regime
de clausura ou um eremita escondido do mundo na sua caverna.
Ai Guida! Pará
de me tentar arranjar uma companhia, pára de me tentar impingir os teus amigos,
os amigos dos teus amigos e afins, pára de me tentar impingir como se fosse uma
mercadoria danificada ou um artigo descontinuado que se vende mais barato.
Amiga do coração vê se percebes: eu não estou nem aí! Não procuro um príncipe
encantado num cavalo branco, nem quero saber de riqueza, de bens, de família,
de berço, de estatuto, de luxo, viagens, conforto, de beleza, de fatos e gravatas,
status e afins… não quero nem saber! O que eu procuro não está à vista
desarmada, o que eu procuro está escondido na profundidade de um olhar, na
suavidade de um toque, na gentileza de um sorriso… o que eu procuro não se vê,
apenas se sente.
Bolas Guida!
Olha a conversa que acabei de ter contigo… embora tenha sido apenas na minha
cabeça, embora continue sentada no mesmo banco de jardim onde atendi a tua
chamada, embora me continue a sentir orgulhosa de mim mesma por ter tido a
coragem, que tantas vezes me falta, de fazer o que quero sem pensar se estou a
magoar alguém.
Olho para o
relógio… caramba estou aqui há quase uma hora. Mas não me apetece ir para casa…
está uma tarde deliciosa e eu estou tão bem disposta que me apetece respirar.
Levanto-me…e sigo pela alameda… sinto debaixo dos pés o estalar das folhas
secas que o vento foi arrastando e sinto vontade de saltar a pés junto para as
pequenas poças que a chuva dos últimos dias formou, mas contenho-me…a custo…
mas contenho. Entro no carro…e em poucos segundos volto a sair: que se lixe,
hoje vou fazer o que me apetece! Saio, tranco as portas, atravesso calmamente o
jardim, dirijo-me aquela explanada onde ando há meses para ir, sento-me
tranquilamente e olho em redor: belo fim de tarde, sim senhor.
- Olá boa
tarde! Então o que vai ser? – Pergunta-me uma voz jovem e sorridente.
- Olá boa
tarde! Então vai ser um café cheio e um pastel de nata… com canela se faz
favor.
- Com
certeza. É só um segundo.
Comentários
Enviar um comentário