Perdoem-me o desabafo mas tem de ser… há coisas que, como dizem os antigos me revoltam os fígados.
Desde o dia 20 de Abril que está em curso uma greve da mão-de-obra portuária no Porto de Lisboa, tendo nesta data o Sindicato dos Estivadores, Trabalhadores do Tráfego e Conferentes marítimos do Centro e Sul de Portugal ordenado a paragem de todo o trabalho portuário em Lisboa.
Desde a mesma data estão paralisados neste porto um sem número de contentores, muitos deles já com o processo de desalfandegamento concluído e inclusive com o IVA pago à cabeça, que não têm ordem para ser libertados.
Não obstante todos os danos causados até então, no dia 28 de Abril o referido Sindicato avançou com novo pré-aviso de greve até dia 27 de Maio, tendo no mesmo dia sido emitido um comunicado por parte do Ministério do Mar a dar conta que as negociações tinham fracassado em dois pontos mas que os serviços mínimos estavam garantidos.
Nestes serviços mínimos incluem-se a movimentação de cargas destinadas às Regiões Autónomas e operações de carga e descarga de mercadorias deterioráveis e matérias-primas para alimentação. Oficialmente está tudo a ser cumprido… na prática sabemos que não é assim. Na prática sabemos que existe um sem número de contentores que não são libertados e oficiosamente sabe-se que o braço de ferro está para durar.
Na prática o que resta a quem tem contentores parados, sobretudo no terminal LISCONT, é enviar toda a documentação possível ao Armador, que por sua vez envia ao Sindicato, que por sua vez analisa e decide se o material em questão se enquadra ou não nos serviços mínimos e ordena o seu levantamento em dia e hora, por si fixada, ou simplesmente recusa.
Não tenho nada contra quem luta pelos seus direitos, tenho sim contra quem para lutar pelos seus direitos viola os direitos dos outros, contra quem paralisa a economia retendo contentores de matéria-prima, contra quem impede as empresas de laborar, contra quem promove o inflacionamento de preços de matéria-prima como a soja e o bagaço de soja para as rações, contra quem põe em causa postos de trabalhos de terceiros que se vêm impedidos de laborar por falta de matéria-prima, contra quem põe em causa processos de exportação e sobretudo contra quem de forma velada ajuda a matar um bocadinho mais a cada dia que passa uma economia já por si debilitada.
Indigna-me que a Comunicação Social quase não fale no assunto, que não comente o que se passa, que se limite a assistir e a publicar de quando em vez uma breve notícia, apenas para que não se diga que nada se comunica.
Indigna-me que uma classe que se diz ofendida e ultrajada, que clama estar a ser enxovalhada em praça pública e a ver a sua imagem denegrida, seja a mesma que fez com que só este ano mais de 100 navios deixassem de atracar no Porto de Lisboa, que sejam aqueles que reclamam que é utilizada mão-de-obra mais barata e um sistema de escravatura os mesmos que apresentam taxas de absentismo de 40%.
Indigna-me que sob a bandeira da luta pelos direitos se estejam a sufocar empresas e a ameaçar postos de trabalho de pessoas que trabalham para receber ordenados em nada comparáveis com os destes senhores, porque precisam de sobreviver.
Indigna-me que a classe politica assobie para o lado e se limite a afirmar que não problema, se a greve se mantiver os serviços mínimos também se vão manter.
Indigna-me que o direito à indignação seja usado como arma de arremesso.
Indigna-me que uma classe trabalhadora tenha o poder de ordenar a paralisação do Porto de uma capital Europeia e sobretudo indigna-me que tenha o poder de asfixiar a economia, o tão badalado aumento das exportações e deitar por terra qualquer vestígio de incentivo à produtividade.
Indigna-me esta situação! Indigna-me este não querer saber! Indigna-me que as pessoas usem a bandeira dos direitos e das liberdades em vão! Indigna-me a conivência política com esta situação! Indigna-me sobretudo querer trabalhar e não poder porque um senhor qualquer de um Sindicato com mais nome que juízo decidiu que a matéria-prima que lá tem sequestrada em diversos contentores não é uma prioridade! E como já não posso fazer mais nada, a não indignar-me, pelo menos até que venha um chico esperto de um Sindicato qualquer dizer que indignar-me também não se enquadra nos serviços mínimos…indigno-me e partilho a minha indignação.
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